Uma característica marcante de Hong Kong é o cuidado obsessivo quanto à higiene. Eu acredito que é devido à mistura das culturas britânicas e chinesas. Juntou o cuidado dos britânicos quanto à higiene com o temor de que os habitantes da China, que estão vindo aos montes a Hong Kong, tragam hábitos arraigados em sua cultura, mas considerados danosos à saúde pela população local. Além do que, em um lugar muito populoso, as doenças infecciosas se espalham rapidamente.
Eu já falei como muita gente aqui anda com máscaras (veja aqui). Não é por causa da poluição, como pensei ao princípio. É para evitar pegar ou transmitir vírus. Isso começou em 2003, quando o surto de SARS saiu do controle e dizimou centenas de pessoas.

O aeroporto foi o primeiro lugar que chegamos, claro, e também onde logo de cara ocorreram os primeiros choques quanto a isso: metade dos funcionários usam máscara. Conversam e fazem tudo com elas. Todo mundo que chega tem que passar por um lugar de controle de saúde, no qual dois funcionários ficam observando as pessoas que chegam para ver se apresentam sintomas de viroses. Chris e eu estávamos de chapéu e tivemos que tirá-los para passar nesse controle. Eles também selecionam pessoas aleatoriamente para medir a temperatura e ver se a pessoa tem febre. Ainda não aconteceu conosco, mas fizeram com minha mãe quando ela veio no visitar. É tudo tão eficiente que chegam com o aparelho perto da pessoa, sem dizer nada, sem nem encostar na pele, e instantaneamente aparece a temperatura no aparelho. Acho que muita gente nem percebe que está sendo medido. Se alguém apresentar febre, deve passar por uma avaliação médica e pode até ficar em quarentena.

Além disso, coisas comuns dos chineses fazerem, são proibidíssimas em Hong Kong e dignas de multa: comer e beber no transporte público, jogar lixo e cuspir no chão (as razões merecem outro post, aqui).

Outra coisa é que desinfetam constantemente lugares em que muita gente põe a mão ou pé. É comum ver nos elevadores de prédios públicos e residenciais, a informação de que os botões são desinfetados a cada X horas (geralmente a cada duas horas! Será?). Até mesmo em jogos nos museus e carpetes de banheiro de shoppings.

Na entrada da porta do nosso edifício, tem até um capacho anterior ao tapete da entrada, com um cartaz explicando como limpar os pés, porque, afinal, é algo complicado. Os passos (que podem ser lidos numa tradução ruim ao inglês na foto abaixo), são: 1) pise nessa área por 2 segundos 2) pise no capacho 3) esfregue os pés no capacho 4) ande com cuidado 5) obrigado. E aí, entenderam como fazer direitinho?

O metrô, que transporta muita gente por dia, é ponto de atenção especial. Há diversos vídeos que pedem que você saia do trem e procure um funcionário caso não se sinta bem. Além disso, diversos avisos escritos e anunciados no sistema de som, dando instruções como: cubra a boca com a mão quando espirrar. Use máscara quando apresentar febre ou tosse. Não espalhe seus germes.

Acho que isso também influencia o fato de que, na minha percepção, eles não se tocam tanto. Por exemplo, aperto de mão ao conhecer alguém não é regra. Amigos não se abraçam ou beijam quando se encontram ou despedem. Quando cheguei e fui conhecer minha orientadora pessoalmente, ela não apertou minha mão nem nada. Fiquei o tempo todo da conversa pensando: ao sair estendo a mão ou não? Mas como “em Roma faça como os romanos”, segui o que ela fez, ou seja: nada. No entanto, como boa brasileira, sinto falta do afeto e tem hora que não aguento e falo para umas amigas: vamos nos despedir à la latina. E dou abraço. No princípio elas riam sem graça, mas agora até gostam e tem vezes que elas próprias tomam a iniciativa ao se despedir de mim! Adoro! Para mim, o afeto vale mais que os germes.
Eu também sentiria falta dos abraços e beijos. Ainda mais que nós, mineiros, somos super beijoqueiros e abraçadores…
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Eu sou mesmo! Nao sabia que mineiros sao mais beijoqueiros… 🙂
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