Singapura (que antes do acordo da Língua Portuguesa, nós brasileiros escrevíamos Cingapura) é uma cidade-estado. Com cerca de 700 km2 é um pouco maior que São Paulo (que possui cerca de 600 km2). Há uma mistura interessante entre arquitetura moderna e tradicional. Devido à proximidade com Hong Kong, passei um fim de semana lá visitando minha amiga Christine Veras que mora ali há 4 anos e que me mostrou alguns detalhes locais. Compartilho com vocês algumas curiosidades e dicas de Singapura:

O país possui cerca de 5 milhões de habitantes e é multicultural. Sua população descende de chineses, malaios e indianos, mas há também muitos estrangeiros residindo lá. Isso faz com que Singapura tenha 4 línguas oficiais: inglês, chinês, malaio e tâmil (uma língua do sul da Índia). Portanto, toda a comunicação oficial é escrita nas 4 línguas.

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Placa escrita nas4 línguas oficiais de Singapura

As pessoas, ao falar em inglês, falam “la” no final das frases. Isso é por causa da influência chinesa, que usa “la” como indicativo de término de frase. Muito engraçado as pessoas dizerem: “thank you la”, “good morning la ”. Não fique tentando adivinhar o significado desse “la”, pois não há.

A cultura chinesa se faz presente também pela superstição. Um bom exemplo, é a Singapore Flyer, uma roda gigante perto do distrito financeiro. Quando foi inaugurada em 2008 girava no sentido anti-horário. No entanto, devido ao seu posicionamento, os mestres de Feng Shui disseram que isso simbolizava tirar dinheiro da área financeira e que não era bom auguro. Por isso, eles inverteram o sentido e hoje a roda gigante gira no sentido horário.

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Singapura vive uma ditadura. Diferentes governantes de um mesmo partido (People’s Action Party) vêm comandando o país desde 1960. O ditador Lee Kuan Yew governou o país por 31 anos, até 1990, e é chamado de ditador benevolente. Muita gente credita a ele o fato do país ter deixado de ser agrário e pobre e ter virado uma das nações mais ricas do mundo (é um dos tigres asiáticos). O regime ditatorial vem sendo abrandado, mas eu pude perceber alguns indicativos de um regime totalitário:

Há censura em alguns livros, filmes e autores. Almodóvar, por exemplo é censurado devido aos seus temas carregados de sexualidade e homossexualidade. A biblioteca da universidade de cinema até têm alguns de seus filmes mas, para vê-los, é necessário preencher uma ficha com dados pessoais e justificativa, o que acaba coibindo muitas pessoas.

É proibido falar contra o governo. Só tem um lugar especifico (um parque com um palanque) em que as pessoas podem fazê-lo, mas é preciso pedir autorização prévia do próprio governo para falar mal dele (!?!). Fico me perguntando se alguém se atreve.

No metrô é comum ver policiais uniformizados, não sei se para proteger ou vigiar a população, provavelmente ambos. Uma vez vimos 5 policiais andando ostensivamente e encarando todos os passageiros, olhando na cara de um por um. Quase todos abaixavam o olhar. Até eu, estrangeira e sem ter feito nada e errado, me senti intimidada.

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Não fica um cantinho sequer descoberto, com as câmeras de segurança nas ruas de Singapura.

Talvez até por conta desse policiamento ostensivo, Singapura é um país bastante seguro. Em minha estada lá, vi 2 placas na rua do departamento de prevenção de crimes. Uma indicava quantos furtos (19) haviam sido registrados em determinada região, no período de dois meses. Penso que era para alertar os turistas de que é uma região que é preciso estar atento aos pertences, já que a população não está acostumada com isso. A outra placa dizia que havia sido reportado um ato de atentado ao pudor na região e pedia para quem soubesse de algo ligar para o disque-denúncia. Além disso, o país possui pena de morte para crimes como assassinato, estupro, sequestro e tráfico de drogas. É o segundo país do mundo com mais execuções per capita e executam inclusive estrangeiros.

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Placa de alerta de crime: um atentado ao pudor ocorreu nessa região.

Singapura possui leis que multam atos como:

Comer jaca em certos lugares públicos

Mostrar afeto em público

Fazer xixi no elevador (oi?)

Mascar ou vender chicletes (isso porque muitas pessoas colocavam chiclete mascado nas portas e vias do metrô, atrapalhando o funcionamento do mesmo. Há exceções para chicletes que ajudam a parar de fumar, que podem ser comprados com receita médica).

Por conta disso, os próprios moradores do país, fazem piada dizendo: “Singapore is a fine city” (Singapura é uma boa cidade, mas a palavra que usam para o boa, “fine”, também significa multa).

Apesar de todas as proibições e, surpreendentemente, uma das atividades totalmente legalizada é a prostituição…

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Cena típica de Singapura: Placas com vigilância e proibições, entre elas não comer jaca.
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Camisa à venda em Singapora ironiza as proibições no país.

Na Chinatown, um dos bairros com concentração de população chinesa, tem uma rua chamada Sago Lane, que é conhecida como ruas dos mortos, porque era cheia das casas da morte. A população chinesa acreditava que se a pessoa morria em casa, trazia má sorte para os residentes que ficavam. Portanto, essas casas eram lugares que possuíam basicamente só camas, mais nadas, e que as pessoas doentes e pobres iam até falecer. A rua tinha ainda funerárias e restaurantes, mas as casas de morte foram banidas em 1961.

Chinatown Singapura
Rua em Chinatown, com nossa amiga e guia Christine Veras

Ficou com vontade de conhecer esse país curioso e interessante? Seguem algumas dicas:

Não pense que vai conseguir esticar o braço e pegar um táxi na rua. Os táxis dificilmente param para pegar passageiros na rua. Isso porque, para fluir o trânsito, os táxis só podem parar em determinados lugares demarcados. Caso contrário, adivinha o que acontece? Levam multa, claro. As alternativas são chamar um táxi (por telefone ou aplicativo) ou andar até um ponto de táxi.

Há dois shows de luzes noturnos em Singapura. Um é nas supertrees do Gardens By the Bay. As pessoas sentam ou deitam no chão, olhando para as árvores que se iluminam ao ritmo de música instrumental. Parece que a cada tanto tempo trocam a música, e criam também temas especiais, mas quando fomos tocou até música brasileira! Quando termina esse show, dá tempo de cruzar a pé até a Marina Bay, perto do Museu de Arte e Ciência, para ver o outro show com música e projeções de vídeo na água! Ambos shows são gratuitos.

O aeroporto do país, Changi, é considerado o melhor aeroporto do mundo. Ele é cheio de espaços agradáveis como jardins temáticos, zona de jogos, playground para crianças e tem até um cinema gratuito. Há ainda diversos lugares pensados para quem precisa dormir no aeroporto, com cadeiras reclinadas e confortáveis. A internet é boa e gratuita e se você baixar o aplicativo do aeroporto, tem 24 horas de internet grátis. O app é bom também para ver os status dos voos e a localização das facilidades. Algo que adorei foram aquelas cadeiras de massagens nos pés, espalhadas pelos portões de embarque e totalmente gratuitas! Portanto, se precisar fazer uma conexão longa em Singapura, não pense duas vezes e aproveite o que o Changi oferece. Mesmo que uma conexão não te obrigue a ficar lá muito tempo, vale a pena chegar com antecedência para aproveitar os mimos e confortos desse aeroporto.