Afinal de contas, o que eu estou fazendo em Hong Kong?

Eu vim fazer doutorado. Tudo começou quando minha amiga Christine, que está fazendo doutorado em Singapura, viu uma palestra de um professor de Hong Kong, que falou sobre minha escola e ela achou a minha cara. A School of Creative Media (escola de mídia criativa), na City University of Hong Kong, diz ser a única no mundo que combina mídia e arte. Entrei no site, vi os recursos e apaixonei-me. Pesquisando sobre doutorado, vi que havia a possibilidade da bolsa do governo, que se chama Hong Kong PhD Fellowship Scheme. É voltada para atrair estudantes internacionais, interessados em cursar o doutorado em 8 universidades daqui. Dizem que essa é a bolsa que melhor paga no mundo. Pode ser, mas com o custo de vida aqui sendo literalmente o mais caro do mundo (veja notícia em inglês aqui  ou notinha em português aqui), a bolsa mal é suficiente pra cobrir os gastos.

scm cityu

Então me preparei por um ano, fiz um projeto para estudar o fenômeno de selfies e participei da seleção. Com direito a entrevista telefônica de madrugada, a universidade me garantiu a vaga. Quando saiu o resultado da bolsa do governo, e eu fui selecionada, a universidade me ofereceu uma bolsa própria, com moradia grátis por um ano e isenção das mensalidades.

A bolsa do governo, além do pagamento mensal, inclui uma verba para participar de conferências internacionais e ainda aumenta um pouco o valor se eu passar um semestre no exterior. Não à toa, é bastante concorrida. Quando tentei, em 2014, foram mais de 3,600 candidatos do mundo todo, para cerca de 200 vagas. Enfim, com essas duas bolsas, não tinha como eu não vir. Para saber mais sobre a bolsa do governo, clique aqui)

Cerimônia de recebimento da bolsa Hong Kong Fellowship Scheme
Cerimônia de recebimento da bolsa Hong Kong Fellowship Scheme

O sistema educativo de Hong Kong é baseado no modelo britânico. O nível superior aqui é todo em inglês (aulas, trabalhos, comunicação interna) então não precisarei escrever uma tese em cantonês ou mandarim. Ufa!

A City University of Hong Kong, ou simplesmente, CityU, é uma universidade jovem e ano passado foi eleita a 57a melhor universidade do mundo, de acordo com o QS World University Rankings. Além disso, é a 7a melhor universidade da Ásia (QS University Rankings: Asia) e a 4a do mundo entre as 50 que têm menos de 50 anos (world’s top 50 universities under 50).

Após quase um ano aqui, posso destacar algumas coisas que mais me chamam a atenção, talvez pela diferença com o Brasil.

A CityU oferece uma quantidade enorme de cursos e atividades extraclasses, gratuitos ou praticamente gratuitos. Eles têm uma preocupação muito grande com o bem estar dos alunos. Acho que é porque os chineses são meio bitolados com estudo e competitivos. Se deixar, eles ficam só estudando e não fazem outra coisa. Qualquer dia da semana, até no final de semana, e qualquer horário, inclusive madrugada, tem muita estudando na biblioteca ou outros cantos. Então os cursos vão desde crescimento pessoal (como liderança), até hobbies (ex: massagem, pintura), passando por orientação para o mercado (ex: como fazer currículo, passar por entrevista). Além disso, há diversos cursos de educação física e os alunos de graduação ainda ganham 1 crédito por semestre para participar. Além dos esportes tradicionais como natação, volêi e tênis de mesa, tem também: dança, yoga, pilates (já fiz nos dois semestres que estou aqui), arco e flecha, golfe, esgrima e escalada.

Como se fosse pouco, eles organizam passeios turísticos e culturais para quem quiser (inscrição por ordem de chegada) e cobrem as entradas e 60% do transporte e alimentação!

Eles investem pesado na cultura de internacionalização e possuem centenas de programas de intercâmbio com diversos países (Brasil ainda não). Os programas são de semestre no exterior, voluntário internacional e estágio no exterior. Há também bastante estudantes internacionais aqui. Por isso, há um projeto com alunos de graduação, para aulas básicas de cantonês para estrangeiros. Lógico que eu participei. Além de ajudar com vocabulário básico, ainda ganhei umas amigas fofinhas que me ajudam por telefone caso necessite algo urgente e não consiga me comunicar. A universidade separa verba para estes alunos e pro curso. Na última aula, deu dinheiro para que nós, os aprendizes, fôssemos à praça de alimentação e comprássemos comida, fazendo o pedido em cantonês.

aula de cantones Hong kong-abordodomundo
aula de cantonês
Confraternização da aula de cantonês
Confraternização da aula de cantonês

A CityU tem uma residência universitária bastante grande, com capacidade para 3.700 alunos. Um prédio é só pra alunos de graduação. Foi onde eu tive o quarto este ano. Os quartos são pequenos, assim como as moradias em geral por aqui. Confesso que não é muito confortável, mas o aluguel é barato. Hong Kong tem um sério problema com preço de moradia e ninguém pagaria o mesmo preço da residência em outro lugar, nem dividindo apartamento. Essa é a grande vantagem, além de fazer amizades, ficar perto da universidade e participar dos eventos semanais. Com isso, sempre tem mais alunos querendo morar lá do que vagas, então eles fazem sorteio.

A biblioteca merece um detalhamento. Adoro! Eu fico impressionada e procuro aproveitar ao máximo os muitos recursos. O acervo é bem completo, até agora tinha todos os livros que precisei. Mas, caso necessite de algum livro que só tenha em outra biblioteca daqui, posso pegar emprestado por meio das parcerias da biblioteca.

O espaço da biblioteca em si é grande, bonito e há vários cantinhos para diversos fins, incluindo um cinema para 15 pessoas que qualquer aluno pode usar para assistir DVDs. Tem até duas impressoras 3D para nosso uso. Os recursos são modernos e ela promove atividades como cursos, oficinas e palestras. Já fui a treinamentos diversos e palestras sobre publicação acadêmica. Além disso, vive promovendo concursos que desenvolvem habilidades nos alunos, com prêmio e tudo. Eu tirei primeiro lugar em um concurso de histórias de viagem e terei a minha publicada em um livro!

Agora, o que mais uso é a coleção de mídia. Super completa. Possui vários filmes clássicos que não consegui achar no Brasil, além de documentários e animações mais raros. O melhor: se não tem algum vídeo ou filme que preciso, posso solicitar e eles adquirem. Tem até várias séries de tv completas! Pela biblioteca ainda, temos acesso gratuito a recursos que seriam pagos, como alguns jornais acadêmicos e um software que administra as referências facilmente (eu acho essa parte das referências chata e trabalhosa e o software veio como um bálsamo para mim, que agiliza e automatiza o processo).

Por fim, nós, pós-graduandos, temos acesso a diferentes laboratórios com computadores e softwares modernos. Para minha mesa de trabalho, pude escolher entre um mac e pc, tenho acesso a internet muito boa e espaço para guardar várias coisas (espaço é um problema sério aqui). E meu escritório, que compartilho com outros alunos e professores, tem uma linda vista!

Se faltou algum detalhe que você gostaria de saber sobre a vida aqui, não deixe de me escrever!

minha mesa de trabalho