Uma das grandes questões a ser considerada para quem quer morar em Hong Kong é a moradia. Quem já viu fotos de Hong Kong pode ter a imagem de uma cidade dominada por prédios altos. De fato, Hong Kong não possui os maiores arranha-céus, mas é a cidade com mais arranha-céus do mundo (cerca de 1230). O maior edifício possui 118 andares, sendo o sexto do mundo em altura.
E não são altos só prédios comerciais. Os prédios residenciais mais antigos costumam ter pelo menos 8 andares, chegando a 20. Já os mais modernos têm mais de 50 andares. Temos amigos que moram no andar 67, em um prédio com 70 andares. O elevador (foto abaixo) é tão rápido que dá pressão no ouvido.


Essa altura toda não é mania de grandeza. É pura necessidade. Hong Kong não tem espaço. Com pouco mais de 1000 km2 e cerca de 7 milhões de habitantes, a densidade populacional é 6500 pessoas por km2. Como comparação, São Paulo tem 7.700, um pouco mais densa. Só que 60% do território de Hong Kong são natureza (montanhas e parques), onde não é possível construir. Na imagem abaixo, as partes em amarelo são o espaço que sobra para morar.

Essa falta de espaço, claro, faz com os preços de aluguel e compra sejam absurdamente altos até para espaços ridiculamente pequenos. Isso puxa o custo de vida de Hong Kong para o mais alto do mundo, pois na minha opinião comida e outros itens não são tão caros.
Claro que o preço varia com a região e o tamanho, então vou falar em termos gerais. O preço médio de aluguel de um apartamento de 3 quartos é de 18 mil reais por mês (HKD 44000,00). Na prática, mesmo um apartamento menor, de 1 ou 2 quartos, em um lugar mais central, não fica por menos da metade disso.
Na ilha de Hong Kong, que é o coração da cidade, o aluguel costuma ser caro, mesmo em partes em que o metrô não chega (geralmente perto de praias). Nas outras ilhas mais afastadas, o aluguel é mais barato, mas a pessoa fica dependendo de ferry para se deslocar. Além de gastar muito tempo e pagar mais no deslocamento, os horários dos ferries são espaçados e limitados.
Uma maneira de economizar no preço do aluguel é morar em um lugar bem pequeno. Muitos apartamentos têm só um cômodo que é sala e quarto, mais o banheiro. Então muita gente mora sem ter cozinha em casa. Acabam comendo fora sempre e por isso Hong Kong é apinhado de restaurantes e comida de rua, as 24 horas do dia.
Mesmo apartamentos com mais cômodos, muitas vezes possuem quartos em que não cabe nem o armário, praticamente só a cama. E já vi banheiro daqueles que, literalmente, tem que tomar banho em cima do vaso. Chega a ser claustrofóbico.
Como a necessidade faz a força, aflora a criatividade do pessoal aqui em aproveitar cada centímetro quadrado de espaço. Há muitos móveis com duplas funções tipo sofá-cama e mesa com gavetas.

Além do aluguel em si, claro que há as outras despesas. No processo de aluguel de um imóvel, geralmente há que deixar 2 meses de aluguel como caução, como acontece no Brasil. Mas aqui, no ato de assinatura do contrato, o inquilino paga para a imobiliária metade do aluguel e o proprietário a outra metade. Ou seja, a imobiliária, recebe um mês de aluguel e inquilinos e proprietários não têm este valor reembolsado.
As contas de água, luz e gás não chegam mensalmente. Geralmente a cada dois meses mas nem sempre. Não há regularidade. A boa notícia é que a água é subvencionada e praticamente grátis. Em 10 meses, chegaram só 3 contas que totalizam HKD187, cerca de R$79! Mais ou menos 8 reais por mês…
Para compensar, a eletricidade acaba ficando mais cara no verão por conta do ar-condicionado, que é indispensável nessa época, quando o termômetro fica acima dos 32O e a sensação térmica, por conta da umidade, é de cerca de 44o.
Por tudo isso, a questão da moradia se converte em um dos problemas sociais daqui. O governo oferece residências estatais para quem ganha pouco. São 2 milhões de pessoas (30% da população morando nesses apartamentos).
Só que há problemas, pois às vezes muita gente divide apartamento minúsculo, mesmo não sendo família, tendo que compartilhar áreas comuns. Muita gente morando junta em lugar pequeno, restringe a privacidade. É uma intimidade forçada. Se por um lado há fila de espera para estas residências, há outras pessoas que preferem privacidade maior e optam por morar na rua. Isso gera um fenômeno diferente do Brasil: parte da população de rua são trabalhadores com emprego formal, mas que não ganham o suficiente para pagar a moradia. Alguns optam por dormir em barracas ou colchões em passagens subterrâneas, mas, com o calor, muita gente acaba passando a noite sob o ar condicionado dos McDonalds 24 horas, que tem muito por aqui. É super comum, à noite, ver gente dormindo escorada nas mesas desse fast-food. Um grupo de mestrado da minha escola fez um documentário sobre moradores de rua. Gentilmente, me cederam para compartilhar com vocês. É um vídeo de 13 minutos, que está em mandarim, com legenda em inglês (não português, desculpem…)
Que doideira tudo isso, Ana!
Mas essa questão do pouco espaço gera soluções bastante criativas, como essa, aí mesmo:
Beijos
PS.: depois corrija a legenda da segunda foto… 🙂
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Legal Poló. Adorei o link.
Corrigida, valeu! Beijos
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