Conta a lenda que no Brasil não há vulcões, terremotos, furacões ou outros fenômenos naturais porque os políticos que temos já são um desastre. Lembrei dessa piada porque, além do conturbado momento político, encarei meu primeiro furacão aqui em Hong Kong.

Dizem que todo ano, entre junho e novembro, Hong Kong é atingida por entre 4 e 6 furacões. Mas, se ano passado eles passaram longe, em 2016 não falta emoção: dois furacões em apenas uma semana!

No início da semana tivemos o furacão Sarika, que ocasionou fortes chuvas e ventos e alagamentos em partes da cidade. Já hoje está passando bem perto daqui o Furacão Haima, que passou primeiro nas Filipinas, e arrasou grande parte, e por isso vai chegar com intensidade reduzida aqui. Numa escala que vai até 5, o Haima atingiu as Filipinas com intensidade 4 e Hong Kong com 2.

Confesso que minha inexperiência é tanta que nem sabia que eles eram furacões. Isso porque aqui são chamados de tufões. Aprendi que furacão, tufão e ciclone são a mesma coisa. O mesmo fenômeno meteorológico recebe diferentes nomes de acordo com o local onde acontece. Furacão é no Oceano Atlântico ou nordeste do Pacífico, Tufão é no Noroeste do Pacífico e Ciclone é no Oceano Índico e Pacífico Sul.

Mapa do Haima. fonte: http://www.hko.gov.hk/
Mapa do Haima. fonte: http://www.hko.gov.hk/

Hong Kong tem um sistema próprio de alarmes, de acordo com a distância que o furacão passa daqui. A escala é 1, 3, 8 e 10 (sendo 10 passando diretamente sobre Hong Kong- não me perguntem onde estão os outros números…). O Sarika foi alarme 3. Já o Haima, chamado de Super Furacao, foi 8 (o mais comum é ter 8 em novembro). Então as medidas de precaução foram mais fortes.

Página do aplicativo do observatório de Hong Kong com o informações metereológicas, como o alarme 8 e a velocidade do vento
Página do aplicativo do observatório de Hong Kong com o informações metereológicas, como o alarme 8 e a velocidade do vento

Dentre as instruções para a população estavam:

Não ficar perto de rios ou do mar.

Aliás, recomendam ficar dentro de casa.

Não ficar perto de janelas e afastar móveis ou objetos de valor das mesmas. Tenha um lugar B para se abrigar, se as janelas quebrarem.

Aulas e eventos foram cancelados. Órgãos governamentais ficaram fechados. Ferries não funcionaram. Vários voos cancelados. O metrô correu com menos frequência em alguns trechos.

No dia anterior, na quinta, que aliás foi um dia muito bonito, com sol, as prateleiras dos supermercados ficaram vazias e as filas grandes.

Prateleiras vazias em supermercado em Hong Kong na véspera do furacão Haima
Prateleiras vazias em supermercado em Hong Kong na véspera do furacão Haima

O mais engraçado foi um e-mail da universidade, com recomendações no dia anterior: estoquem macarrão instanteneo (noodles)/comida. Hahaha esses chineses são fissurados em noodles.

Email recebido a universidade com recomendações, como estocar noodles.
Email recebido a universidade com recomendações, como estocar noodles.

Isso porque mesmo o furacão só passando perto, ele se faz sentir pelo vento e chuva fortes. O vento fazia um constante ruído que, para mim, lembra o de um liquidificador. Imagine um liquidificador no outro quarto, ligado alternando em diferentes velocidades. Para mim é tal qual.

Coincidentemente, o Sarika atingiu mais o sul de Hong Kong, onde estávamos naqueles dias. Já o Haima sentiu-se mais forte no norte, que é onde moramos. No primeiro saímos para gravar vídeos e ficamos ilhados, tendo que nos esconder na reentrância de um edifício (mesmo assim ficamos ensopados) e esperar um tempo até podermos vencer o vento e entrar. No segundo ficamos olhando pela janela. As árvores perto da nossa janela da sala balançavam tanto, que ficamos com receio de caírem e atingir o prédio. Realmente, o galho grande de uma delas caiu, mas para o outro lado, ainda bem. Escutamos o barulho de algo atingindo a janela do quarto. Não vimos o que foi, mas não quebrou anda. Na nossa rua vários galhos e árvores caíram, arrancadas com raiz e tudo. Não conseguimos nem abrir a janela, mas tentamos fazer alguns vídeos.

O Haima durou umas 11 horas, durante as quais as ruas ficaram desertas. O vento chegou a 110 km/h. Até agora, uma morte foi registrada, mas os prejuízos com fechamentos do comércio, estabelecimentos e da bolsa de valores, estão estimados em mais de U$600 milhões.

Confesso que o primeiro sentimento ao descobrir isso foi: uau, que legal, vou passar pela experiência de um furacão. Já durante o furacão me deu certo receio e vi o quão ridiculamente frágeis somos perante a força da natureza.

No dia seguinte, foi possível ver várias árvores que não caíram, mas ficaram tortas e estão sendo escoradas para não cair.

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árvore cortada ao meio
arvores-caidas-apos-furacao-hong-kong-abordodomundo
Essa caiu com raíz e tudo
arvore-e-placas-derrubadas-apos-furacao-hong-kong-abordodomundo
Árvore e placas derrubadas pelos ventos do furacão Haima
arvores-tortas-apos-furacao-hong-kong-abordodomundo
Várias árvores ficaram tortas…
...e tiveram que ser escoradas
…e tiveram que ser escoradas

escorando-arvores-tortas-apos-furacao-hong-kong-abordodomundo

sombrinha-nao-segura-furacao-em-hong-kong-abordodomundo
Sombrinha não segura chuva e vento de furacão…