Algumas pessoas me chamam de Ana Clara, outras só de Ana ou Clara ou ainda Clarinha. Já estou acostumada a pensar qual dessas variações falar de acordo com quem converso, mas nunca imaginei que, ao mudar de país, mudaria também meu nome: Olívia. Já são 3 professores que me chamam assim. Para entender a razão, vou explicar como funcionam os nomes por aqui.
Damos por sentado que os nomes são mais ou menos do jeito que estamos acostumados. Mas aqui em Hong Kong e outros países asiáticos, o sobrenome vem primeiro. Muitas vezes se escreve em maiúsculas. Acontece que, pela questão da língua só conter monossílabos, os nomes e sobrenomes também em geral só contêm uma sílaba cada. E no geral é só um sobrenome e um nome, ainda que alguns contenham um nome do meio.
Por exemplo:
ZENG Jin
ZHANG Wei
Diz a lenda que só existem uns 100 sobrenomes chineses. Mesmo que seja o dobro ou triplo, não significa muito numa população contada em bilhões. Com apenas um nome e um sobrenome, imagino o quanto deve dar de homônimos!
O sobrenome mais comum na China, tipo o nosso Silva, é Ng. Se pronuncia como mm. Isso mesmo, nem se abre a boca.
Quando alguém se apresenta e diz o nome, é algo rápido e só entendo as vogais, não consigo imaginar como é o nome escrito, o que faz ficar mais difícil de decorar o nome… Mas não é só no meu caso. Os nomes são tão complicados para os estrangeiros entender, que muitos chineses adotam um nome “ocidental”. Atualmente os pais podem colocar o nome no filho ou filha em inglês, ou até como um nome do meio. Mas, no geral, cada um escolhe na adolescência, o seu próprio nome ocidental. Se for pensar bem, é até legal isso, poder escolher o próprio nome. Mas se nos nomes em chinês eles costumam pensar em qualidades que querem que os filhos tenham, em inglês às vezes eles vão mais pelo som do que pelo significado. Isso gera alguns nomes e combinações de nome e sobrenome divertidíssimas para quem fala inglês.
Talvez o exemplo mais popular é o Never Wong (never wrong em inglês é: nunca errado).
Na padaria que frequentamos, há duas atendentes que fazem o Chris corar: Licky e Kinky (lick= lamber e kinky é algo como: excêntrico sexualmente).
Conhecemos também uma Underdog (oprimido/a).
Outros exemplos que não vi pessoalmente, mas que li que existem são: Coffee (café), Candy (bala), Pacman, Iceman (homem de gelo), Heman (como He-man, o héroi dos desenhos , mas nesse caso é uma mulher) e até Juicy Tang (algo como: Suco Tang)!

Enfim, voltando ao meu caso. Eu e meus cinco nomes provocamos espanto e risos. Em formulários, o espaço pra preencher o nome é pensado para nomes curtos. Meu nome sempre fica maior e eu tenho que fazer duas linhas ou invadir outro campo… (foto).

Uma vez, tive que imprimir um formulário eletrônico na escola, e meu nome invadia o próximo campo, tapando o número da minha requisição. E não tinha como mudar dentro do sistema, encurtar o nome ou aumentar o espaço. Tiveram que aceitar eu colocando o número à mão, por cima.
No Brasil, sempre fui uma das primeiras na chamada da escola e já me acostumei a encontrar meu nome entre os primeiros de uma lista. Como aqui o sobrenome é primeiro, fico lá embaixo, no “O” de Oliveira, que é meu primeiro sobrenome, o da família da minha mãe. Mas ainda fica fácil de achar: meu nome sempre é o maior ou, quando em uma tabela, o único em linha dupla. Quando alguém quer encontrar meu nome em uma lista, ao invés de tentar fazer entender meu nome, eu já digo: é o maior nome. Até agora, nunca falhou.
Com esta história, alguns professores, ao ler meu nome em uma lista, leem o primeiro nome que aparece: Oliveira. Não sei se eles pensam que deve ser meu primeiro nome, pois sou ocidental, ou porque o sobrenome não lhes é familiar, mas já são três professores que ao ler “Oliveira”, me chamam de Olívia. Nas primeira vezes até tentei dizer: “pode me chamar de Ana”, ou ainda ensinar a pronúncia correta. Mas não há como eles pronunciarem o Oliveira… E, como também devo estar pronunciando o nome de algumas pessoas aqui totalmente errado, quem sou eu para insistir? O fato é que já até acostumei a responder e olhar quando alguém me chama por um nome que nunca tinha feito parte da minha identidade: Olívia.
Esses chineses são malucos, Olívia! 🙂
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Rsrsrs
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