Uma pergunta que várias pessoas têm me feito é sobre a comida em Hong Kong. Chegou a hora de começar a responder, pois o assunto rende mais de um post.
Já adianto que, mesmo se não fôssemos vegetarianos, seria difícil acostumar. É um dos pontos que os estrangeiros aqui têm mais dificuldade para se adaptar. Paradoxalmente, Hong Kong se vende como um paraíso gastronômico.
Em primeiro lugar, esqueçam essa história de comida chinesa. Além de não lembrar muito a comida dos restaurantes chineses do Brasil, na China, a comida difere por regiões. Não teria muito sentido dizer comida chinesa, assim como no Brasil não falamos “castanha do Brasil” (Brazilian nuts), como é mundialmente conhecida a nossa castanha do Pará. Em Hong Kong é a comida cantonesa e, segundo o pessoal daqui, a comida cantonesa é a melhor do mundo. (!?!?!)
Bom, o arroz aqui reina absoluto em todas as refeições. Café-da-manhã, almoço, janta. O arroz é grudadinho e sem tempero, inclusive sem sal. É quase como um pão, complementa a comida. No supermercado, são vários tipos de arroz e vendem em grande quantidade: os sacos são de 5, 10, 15 ou 25 kilos! Vejo várias pessoas saindo do supermercado com o saco grande nas costas, como se fosse saco de cimento.
O consumo é tão grande que há uma maior incidência de câncer de intestino, relacionado a uma substância contida no arroz. Por isso, os médicos chineses pedem exames, como colonoscopia, com mais frequência, como medida de prevenção ou detecção precoce do câncer.
Além de arroz, a culinária contém muita carne, vermelha, frango e bastante peixe e frutos do mar. Há até carne de cobra e tartaruga. Mas não posso debater a qualidade de nenhuma.

Há várias espécies de cogumelo. Tenho a impressão que são preparados para parecer carne: cheiro, textura e gosto. Como muita gente é vegetariana por questão religiosa (budismo), devem ficar felizes por comer “carne falsa”.
No entanto, como meu problema é aversão à carne, não consigo comer comidas que parecem com carne…
Como vegetariana, peno pra comer nos restaurantes, mesmo os vegetarianos. São fartos em carne falsa e verdura para eles é praticamente sinônimo de repolho fervido ou mesmo cogumelos.
Aprendi a não pedir nenhum prato com cogumelo, mas nem por isso acerto. Há pouco tempo, pedi um arroz com verduras em um restaurante vegetariano, pensando que não tinha como errar. Mas veio um arroz cheio de glúten (parecendo carne), cogumelo e só uns pedacinhos de cenoura e cinco ervilhas! Como assim?

Aliás, isso é super comum. Você lê no cardápio uma comida, imagina como ela é, mas quando vem, não é nada do que pensamos. Saí com 3 amigas estrangeiras e pedimos 4 pratos diferentes. Quando chegaram, nenhuma conseguia reconhecer o prato que tinha pedido, pois era diferente da imagem mental que tínhamos do que viria. Acabamos compartilhando tudo. Por isso, o bom é ir a restaurantes que têm fotos das comidas, no cardápio ou nas paredes, o que é comum.
Realmente, não entendo porque não oferecem mais verduras e legumes nos restaurantes, pois há grande variedade. Por exemplo, há muitos mais tipos de verdura verde escura, tipo couve, do que no Brasil. As frutas também abundam. Enfim, a minha saída é cozinhar em casa.
A boa notícia para os vegetarianos com intolerância à lactose, como nós, é que mais de 80% dos asiáticos são intolerantes à lactose. No Brasil, o que não tem carne geralmente tem queijo. Aqui, praticamente só os restaurantes de cômica ocidental colocam queijo nos pratos. Os chineses comem muita, muita soja, principalmente em forma de tofu.
Essa questão me fez perceber uma jogada de marketing fenomenal. Como a indústria do leite vende um produto que faz mal às pessoas? Pegando no que é valor para as pessoas aqui. Em uma população de baixa estatura e que procura ter pele branca (veja este post), vendem leite como produto que faz crescer e… que embranquece a pele!
Eu vi uns colegas de 18 anos, tomando leite e perguntei: mas não te faz mal?
-Sim, mas é bom pra ficar mais alto.
Outra amiga disse que as grávidas procuram beber leite para que os bebês nasçam com pele alva. Ela compartilhou que sua mãe não bebia leite quando estava grávida dela e por isso a família a culpou por minha amiga não ter nascido branquinha!
Muito legal, Ana! Mas, como nós bem sabemos, a melhor culinária do mundo é a mineira, certo? 🙂
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Claro, mesmo com o tanto de carne… hehe
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Ana, gostei tanto que compartilhei com meus alunos e minhas alunas do Curso Técnico em Hospedagem. Estamos estudando a relação entre alimentação e cultura.
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Que bom. Obrigada por divulgar. Vou fazer pelo menos mais dois posts. E estou deixando os aspectos mais curiosos para o final. hehe
Abraços!
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