Minha amiga peruana Kátia está viajando pelo mundo e veio nos visitar em Hong Kong (nossa primeira visita!). Ela pesquisou na nossa guia sobre Hong Kong as coisas que queria visitar aqui. Como boa historiadora que é, entre outros lugares, selecionou um museu chamado 4 de junho. Segundo a descrição da guia, que é de 2015, este museu é o primeiro do mundo dedicado aos protestos pró-democracia que aconteceram em Pequim em 1989. O evento também é conhecido como Protestos da Praça Tiananmen. Foram 7 semanas de ocupação dessa praça em Pequim e centenas ou milhares de civis mortos. Na China, que tem uma internet censurada e controlada, se você busca na internet pelo evento, não aparece nada. Foi literalmente borrado da internet chinesa.

Bom, o museu em Hong Kong traria artefatos, fotos e filmes relatando a ocasião. Eu quis ir com ela. Pra confirmar os horários e endereço da guia, busquei na internet. Não achei página oficial, mas um blog que contava das exposições, horários, preços, etc.

Quando chegamos na rua onde seria, não encontramos o museu. Sabíamos que não era no nível da rua, mas pela foto do googlemaps haveria uma placa com o nome do museu, do lado de fora. Fomos até o final da rua, voltamos, olhamos o nome da rua de novo, nada. O GPS do aplicativo continuava dizendo que o museu estava diante de nós. Eu parei para buscar na internet se havia mudado de endereço ou se estava fechado. A Kátia resolveu se aproximar do edifício onde seria o museu e viu, pela porta de vidro, que havia um diretório com o nome de todos os negócios que havia em cada andar. Lá estava, 5o andar- 4th June Museum. Ela me chamou:

– Clara, é aqui.

Enquanto atravessava, uma segurança ou porteira abriu a porta e Kátia foi dizendo: – Queremos ir ao museu 4 de junho.

Ela respondeu, em um inglês macarrônico:

– Closed (fechado)

– Today (hoje)?
Mas a mulher ficava só balançando a cabeça negativamente e cruzando uma mão sobre a outra, em um gesto que interpretei como “fechado”. Eu resolvei perguntar também, para confirmar e a resposta era a mesma: fechado, fechado.

Diante de nossas caras de perplexas e da nossa resistência em simplesmente aceitar e sair, ela fechou a porta na nossa cara, nos expulsando do prédio (estávamos só com meio corpo pra dentro).

Achamos muito estranho. Será que ela nos censurou e não nos deixou subir? Ou será que o governos chinês fechou o museu (disse no post anterior que a China vem fazendo intervenções aqui). Nesse último caso, porque não tiraram o nome do diretório do edifício? Até agora não entendemos.

Com a expulsão, nem deu para eu pegar a câmera e registrar com foto ou vídeo. Mas a sorte é que a Kátia é uma artista e fez uma história em quadrinhos sobre o acontecimento, que compartilho com vocês.

 censura- Katia

Aliás, ela está viajando pelo mundo por um ano e diariamente coloca um desenho com algum acontecimento do dia. Um diário muito divertido e criativo. Se quiserem acompanhar (é em espanhol, mas os desenhos ajudam a entender), ela posta todo dia na página do Facebook: La isla desconocida

PS: Após escrever este post, meu blog foi bloqueado na China… Uma amiga entrou antes e agora não se pode mais… Achei que por ser em português estava segura…