Uma pergunta simples mas cuja resposta é mais complicada. Afinal, Hong Kong está na China? Eu não consigo responder esta pergunta satisfatoriamente… Em teoria sim, mas na prática não.

Para entender, voltemos um pouco no tempo, de forma muito resumida: a China perdeu Duas Guerras do Ópio contra a Grã-Bretanha (a primeira guerra do ópio começou em 1839). Teve que ceder então a ilha de Hong Kong e a península perto dela. Essas ficavam na região de Cantão e tinham importância por seu porto e posição estratégica. A Grã-Bretanha então assumiu o controle de Hong Kong por 155 anos. Em 1 de julho de 1997, Hong Kong foi “devolvido” (os chineses dizem reunificado) à China com algumas condições: nos seguintes 50 anos, até 2047, não haveria mudanças no sistema capitalista. Hong Kong, assim como Macau, virou uma Região Administrativa Especial, sob o lema: um país, dois sistemas. Hong Kong tem um alto grau de autonomia.

Além do sistema econômico ser diferente da China, a moeda é diferente, chineses precisam de visto pra entrar aqui e residentes de Hong Kong para entrar na China, quando saímos de Hong Kong passemos pela imigração e controle de passaporte mesmo quando entrando na China, quem é cidadão aqui tem passaporte de Hong Kong e não da China, há liberdade de imprensa e internet sem bloqueio, ao contrário da China. Hong Kong possui sistema judiciário próprio, as leis continuam baseadas na Lei Inglesa. Na China o idioma oficial é mandarim (mas vários outros coexistem) e em Hong Kong é cantonês e inglês. Tudo isso faz com que eu sinta que não estou na China.

Mapa de Hong Kong e sua localização na China. Fonte: http://vlib.iue.it/history/asia/China/
Mapa de Hong Kong e sua localização na China. Fonte: http://vlib.iue.it/history/asia/China/

A influência britânica se vê até hoje. Não tanto dos britânicos que permaneceram aqui, mas noto que, de maneira geral, os moradores de Hong Kong de etnia chinesa, consideram os chineses mal educados ou menos “civilizados”. Há leis que multam quem cospe no chão, por exemplo, prática comum na China. Se alguém atravessa a rua com sinal de pedestre vermelho, entra no metrô sem esperar os de dentro sair ou algo do gênero, o pessoal diz: esses chineses… Já presenciei uma briga acalorada por uma questão de fila, que terminou com um grito: -volte para China!

Desde a reunificação, muitos chineses estão vindo para Hong Kong e penso que o governo esteja até incentivando.

Por sua história, Hong Kong se considera multicultural, uma ponte entre ocidente e oriente. Seu mote é Asia’s world city, algo como uma cidade mundial na Ásia. Além disso, atrai muitos estrangeiros pois é um dos melhores lugares do mundo para se fazer negócios e os impostos são baixos.

Ainda que tenha assinado o acordo que dá autonomia, a China vem tentando fazer algumas interferências, que não são bem vistas. A revolução dos guarda-chuvas, em 2014, foram protestos contra uma tentativa de interferir nas eleições. Ninguém sabe o que vai acontecer em 2047. Será que os moradores de Hong Kong vão aceitar passivamente o domínio chinês e perder a democracia, a liberdade? Será que conseguirão viver sem Google, por exemplo? O tempo dirá. Por enquanto, eu fico aqui tentando resolver se estou na China ou não…