Já passei Natal e Reveillon fora do Brasil algumas vezes. Esse ano foi especialmente difícil. Primeiro porque no início de dezembro perdemos minha tia-mãe-anja Elvira e foi duro não estar com minha família nesse momento.
Além disso, não senti aqui o espírito natalino ou de ano novo. Eu expliquei no post sobre o natal que aqui não há muita celebração desse dia. Para se ter uma ideia, a universidade estava de recesso por 3 semanas, incluindo 25 e 31 de dezembro, mas muitos dos meus colegas chineses não foram para casa visitar a família, pois preferiram deixar para ir em fevereiro, no ano novo chinês, ainda que serão só 5 dias de recesso.
Em Hong Kong, pela influência ocidental, no dia 31 de dezembro até há um show de fogos de artificio, mas todos falam que não se compara ao do ano novo chinês. De qualquer forma, quis verificar e formamos um grupinho de estrangeiros para celebrar juntos. Nele, estavam 3 iranianos. Na conversa eles disseram que no Irã e países pérsias, o ano novo seria só em março. O calendário persa marca o primeiro equinócio de primavera como o primeiro dia do ano. É o Nowruz. E o início do calendário persa é a Heriga ou Medina, peregrinação do profeta Maomé à Meca, em 621 DC. Ou seja, eles estão agora, até março de 2016, no ano 1394!
Isso quer dizer que passei a virada de ano cercada de chineses e iranianos, povos que têm sua passagem de ano em uma data diferente do dia 31 de dezembro.
Mas a curiosidade não parou por aí.
No dia 1 de janeiro de 2016 (para mim, mas não para os chineses ou persas), encontro no elevador um conhecido da Etiópia. Para puxar conversa que não fosse sobre o tempo, perguntei o que ele tinha feito no Reveillon. Ele disse que nada, que dormiu. Diante da minha surpresa, justificou:
– É que para mim não foi ano novo. Na Etiópia comemoramos a passagem do ano em Setembro (dia 11 ou 12). É o Enkutatash.
Aquele país usa o calendário egípcio, e está, até setembro de 2016, no ano 2008.
Eu sabia que dois terços da população mundial não seguem o cristianismo e que, por conseguinte, nosso calendário gregoriano não é único no mundo. No entanto presenciar isso fora da minha cultura e estranhamente sentir-me em minoria no ambiente em que estava, além de divertido, me deu uma noção da minha ínfima posição nesse mundo. Uma das lições de se morar fora de nossa cultura e ver o mundo com outra lente cultural é exatamente a humildade. A viagem pro outro lado do mundo me deslocou não só no espaço mas também no tempo. Afinal, já que estou aqui, nem sei mais se estou em 2016. De qualquer forma, seja qual for a data da sua virada, se você entrou ou vai entrar em 2016, 1395, 2009 ou ano do macaco: que tenha um excelente Ano Novo!
E independentemente de como contamos nossos dias e anos, que lembremos de fazer o melhor cada dia, aproveitando o tempo que temos com as pessoas que amamos.