Terceiro e último post sobre o livro “A arte de viajar” de Alain de Botton.
Meu grande mochilão, 4 meses pela América Latina, eu fiz questão de ir sozinha. Outras viagens longas fiz também sozinha. Sobre viajar sozinho Botton diz:
Viajar sozinho parecia uma vantagem. Nossa reação ao mundo é decisivamente moldada pelas pessoas que nos acompanham, trabalhamos nossa curiosidade para nos adaptarmos às expectativas de outros. Eles podem ter uma visão específica a nosso respeito, impedindo sutilmente que se manifestem certos aspectos de nossa personalidade: “não imaginava que você se interessasse por passarelas”, poderiam sugerir, de maneira intimidante. Observados de perto por alguém, podemos nos sentir inibidos quanto à observação de outros, preocupados em nos adaptar às perguntas e aos comentários de quem nos acompanha, compelidos a parecer mais normais do que seria bom para nossa curiosidade. Estando sozinho (…) sentia-me livre para agir um pouco estranhamente. (Pág. 243)
Além dessas razões, eu acrescento que eu queria fazer o que eu quisesse quando eu quisesse. Quando se viaja junto, há que fazer concessões porque a outra pessoa pode estar cansada ou com fome em horários diferentes ao seu, não ter interesse em um mesmo ponto que você, não concordar com roteiro ou hospedagem. Eu tive liberdade de deixar de ir a uma cidade pré-programada porque gostei de outra e fiquei mais tempo. Também decidi ir a lugares não pensados antes, por conversar com outros viajantes. Esta liberdade fez com minhas viagens fossem totalmente minhas, sem rancores. O detalhes é que, viajando ficando em albergues, você só fica realmente sozinho se quiser. Muita gente viaja sozinha e fica-se aberto para conhecer pessoas e ir a lugares juntos. Fiz grandes amizades viajando e, claro, conheci meu grande amor.
Botton cita ainda um trecho de Baudelaire:
A vida é um hospital em que cada paciente está obcecado com a ideia de mudar de cama. Este quer sofrer em frente ao radiador, e aquele imagina que melhoraria se estivesse junto à janela.
Sempre me parece que estarei bem onde não estou, e essa questão sobre o deslocamento ocupa perenemente minha alma. (Pág. 40)
Isso é verdade. Parece que é da natureza humana querer estar onde não se está. Depois que se mora fora, nenhum lugar mais é totalmente “nossa casa”. Sempre há coisas boas em um lugar e coisas melhores no outro. E quando estamos em um, pensamos no outro e vice-versa. Por isso, muita gente que morou fora se deprime. Posso ir morar em outro país maravilhoso, mas sentirei falta de minha família a amigos. No Brasil, tenho a companhia e cumplicidade de quem me conhece há séculos , mas a qualidade de vida não é tão boa… Aprendi que tenho que aceitar isso: em nenhum lugar vou estar 100% contente, mas isso faz parte da vida e da arte de viajar.
Que bacana, Aninha! É sempre legal ler o que você posta.
Beijos!
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Obrigada Poló! Beijos
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