Aproveitando o recém passado dia dos finados, dou uma pausa nos relatos de Cuba, para contar uma tradição que vivenciei na América Latina, especialmente México e Bolívia. Tem a ver com como lidam com a morte. Talvez pela herança indígena, algumas tradições são no mínimo inusitadas para o olhar estrangeiro.
O dia dos mortos muitas vezes vira uma semana dos mortos. Segundo a tradição, os mortos visitam os vivos nesses dias que podem ir de 30 de outubro a 2 de novembro (sim, coincide com a tradição cristã do dia dos finados). Então a família vai para o cemitério e leva coisas que o morto gostava quando vivo: comidas, bebidas e brinquedos (caso tenham morrido crianças). O clima que presenciei na Bolívia não era nada fúnebre, por incrível que parece. Parecia mais uma festa.
No México, um enfeite comum é as Catrinas: esqueletos vestidos como mulheres chiques. É para mostrar que na morte somos todos iguais, não importam os bens materiais.
Catrinas, na Cidade do Mexico: lembrança que na morte somos todos iguais
Nesse país também, há o costume das calaveras (caveiras), ou seja, poemas sobre a morte de alguém. É para fazer gozação, mas meu amigo mexicano Alejandro conta que na escola tinha que escrever calaveras para pessoas famosas. Para minha surpresa, ele me enviou recentemente uma calavera que fez para mim. Foi estranho ver minha morte anunciada. Mas ficou tão bonitinho, e tão a minha cara, que, passado o susto, só pude rir e adorar. Está em espanhol, mas penso que dá para entender (coloquei um glossário abaixo, para ajudar):
La parca* estaba muy cansada,
porque a Ana Clara
jamás alcanzaba. 
 
Mucho tuvo que viajar,
para Ana poder alcanzar,
porque la mineirinha,
un lugar u otro visitaba,
y atrás siempre 
a la muerte dejaba.
 
Ana la marinheira,
Ana la maestra,
Ana la brasileña,
Ana la actriz,
así la muerte 
por ella preguntaba.
 
Cuando la Catrina*
tocó a su puerta,
Clara pam de queixo* comía.
Fue y abrió 
y al ver quien era, 
pronto comprendió
que ese día
pan*** de muerto comería .
 
En un día como hoy
Doña Muerte de
Ana se acordó****
 
Ya no tendremos más gatinha,
que con sus risas nuestro día iluminaría.
* morte
**Pão de queijo, como soou para Alex
*** pão
****lembrou
Gracias, Alex. Super chilo!
Para saber mais sobre as tradições no México, há algumas informações nesse blog: