Minha primeira visita ao continente da Oceania foi ao país Ilhas Salomão. Se você não leu o relato anterior, sobre como fui parar lá, leia aqui. Neste post, algumas curiosidades do país.

Falam-se mais de 90 línguas no país e a maior parte das pessoas fala várias delas. A língua oficial é o inglês. No entanto, o que o pessoal domina mais, além da língua da sua própria comunidade, é o Pindgin. Essa é uma língua que foi inventada para facilitar a comunicação entre as diversas comunidades espalhadas pela região e é 50% em inglês e o resto é uma mistura das línguas locais. É estranha de escutar porque a gente quase entende, mas não tudo.

A bandeira das Ilhas Salomão é bem parecida com a do Brasil, com as mesmas cores e estrelas.

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A bandeira das Ilhas Salomão não lembra a do Brasil?

Impressionante a amabilidade das pessoas locais, que estão sempre sorrindo. A população tem pele negra e algumas pessoas tem ainda os cabelos naturalmente loiros e encaracolados. Exótico e lindo.

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Menino de pele escura e cabelos naturalmente loiros

A sociedade se organiza por gênero, em uma clara divisão de tarefas por sexo. Por exemplo, nas áreas rurais, as mulheres plantam, juntam lenha, cozinham e cuidam das crianças, quanto os homens limpam a floresta, constroem casas e canoas, pescam e cuidam dos negócios.

A moeda oficial do país é o dólar salomônico, mas há uma moeda paralela e tradicional: o dinheiro de conchas. Esse dinheiro tradicional é usado em ocasiões como casamento, presentes ou compensações pois as pessoas pensam que dinheiro é muito comercial e impessoal para esses eventos importantes. As diferentes comunidades possuem tipos distintos de dinheiro de concha. Alguns são feitos de moluscos gigantes, com um buraco no meio e desenhos esculpidos e a técnica para isso perdeu-se com o tempo. Hoje em dia ninguém mais sabe como fazer esse dinheiro. Então a família que tem algum, o guarda muito bem e acaba sendo importante na comunidade, pois pode ser que precisem dele para resolver alguma questão coletiva. Outras comunidades que ainda fabricam o dinheiro tradicional, o utilizam na forma de colar com diversas tiras compostas pelas “moedas” de concha.

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Dinheiro tradicional, feito com conchas, nas Ilhas Salomão

Nas Ilhas Salomão pratica-se o dote, que deve ser dado pela família do noivo para a da noiva. Esse dote geralmente é feito com o dinheiro de conchas e seu valor corresponde a cerca de USD1200, o que é bastante caro para um país com a economia fraca. Por isso, alguns homens que não têm dinheiro para o dote “roubam” a noiva e vão casar escondido da família. Não é um sequestro, pois geralmente a noiva está de acordo.

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Dinheiro tradicional, feito com conchas, nas Ilhas Salomão

A terra não pertence ao governo, mas ao povo. Então cada comunidade decide o que fazer com ela: podem juntar terras, devido a um casamento, ou doar para outra tribo como compensação por alguma ofensa. O interessante é que várias tribos usam o sistema matrolinear, isso é: a linhagem é definida pela mulher. As terras passam de mãe para filha.

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Mulher salomônica

Com a população espalhada por diversas ilhas remotas, a comunicação é um problema. Como disse no post anterior, não há internet ou celular. A comunicação é feita por rádio. Alguns serviços, como correios, só chegam até a capital. Se chegar uma carta ou encomenda, o destinatário só a recebe quando for à capital. Algumas ilhas se localizam a dias de viagem em barco. Médicos também estão só em algumas ilhas maiores.

As ilhas mais remotas possuem restrições de energia. Algumas usam energia solar e outros lugares possuem geradores a óleo, mas seu custo é caro. Portanto, os eletrodomésticos se resumem praticamente a geladeira e fogão. Não há ventiladores muito menos ar condicionado (e olha que o calor é de matar), máquinas de lavar ou televisão.

Nas ilhas menores não há estradas, portanto não funcionam veículos. Todo o transporte é feito por barcos. Durante a noite, quando fica muito escuro, os barcos se comunicam um com o outro por sinais de lanternas. Eles inventaram um código próprio, para ajudar uns aos outros. Por exemplo: circular o facho de luz indica terra, então é para tomar cuidado para não bater e apontar a lanterna para cima indica direção.

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Raras pessoas usam óculos, apesar de o governo promover consultas oftalmológicas gratuitas para a população. Inicialmente pensei que o nível de analfabetos era alto e por isso não se descobriam os problemas de visão. No entanto, cerca de 85% da população lê e escreve. O pessoal de lá disse que a razão da visão perfeita é sua dieta, pois comem principalmente frutas e vegetais. A dieta também se faz sobretudo com peixes e frango, mas praticamente não há carne vermelha, pois nas ilhas não há animais como vaca ou porco. Por essa razão e pelo estilo de vida também, a obesidade é rara.

O pessoal de lá gosta muito de mascar uma castanha, a Betel Nut. A sua cor faz com que os dentes fiquem avermelhados com o tempo e vi várias pessoas com os dentes assim. Ela é alucinógena e pode viciar. Por causa disso, há placas proibindo mascar betel nut em diversos lugares.

O cristianismo tem presença marcante no país, com 95% da população se declarando cristã. Quase toda comunidade tem uma igreja, seja ela católica, anglicana, adventista ou de outra denominação. No início do século passado, espalhou-se na Europa a história de que na região haviam tribos caçadoras de cabeça. Hoje a leitura é de que os relatos exageravam a realidade da prática. Isso porque os nativos faziam questão de mostrar as cabeças, para meter medo nos estrangeiros. No entanto, os europeus usaram essas histórias para justificar a necessidade de cristianização e civilização desses povos “bárbaros“.

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Toda comunidade tem uma igreja nas Ilhas Salomão

Um dos motivos de orgulho do país foi o resgate do John F. Kennedy. Antes de ser presidente dos Estados Unidos, Kennedy serviu na marinha. Durante a segunda guerra mundial, em 1943, o barco em que estava foi atingido por um navio japonês e afundou. Kennedy e outros companheiros que sobreviveram nadaram até uma ilha próxima. O comandante da missão pensou que todos haviam morrido e não mandou resgaste. Após 3 dias sobrevivendo de côcos, o grupo avistou dois pescadores locais em uma canoa e foram até eles. Kennedy escreveu uma mensagem em um côco e pediu que eles levassem até o capitão. Para fazer isso, eles tiveram que remar por 35 km passando por águas controladas elos japoneses e arriscando assim a própria vida. Ou seja, esses dois salomônicos salvaram a vida de Kennedy, que ficou agradecido, correspondeu-se com eles e até guardou o côco como lembrança.

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Côco em que Kennedy escreveu mensagem de resgaste nas Ilhas Salomão. Fonte: JFK library