Durante minhas temporadas embarcada, vi diversas histórias de marinheiro. Compartilho com vocês 3 que me chamaram mais atenção. Os nomes são fictícios, as nacionalidades não.

Carmen, hondurenha, faxineira. Tem 5 filhos e seu marido batia nela e nos filhos. Foram 20 anos de sofrimento até que começou a trabalhar num barco. Com este emprego conseguiu a independência financeira para separar-se e criar os filhos longe do marido. Ela não gosta do trabalho, mas diz que o navio é o céu para ela porque pôde livrar-se do marido e sustentar os filhos, mesmo que isso signifique sacrificar a convivência com eles.

Um casal de garçons latinos, depois de alguns meses a bordo pegou o dinheiro que ganhou e ficou em Barcelona, Espanha. Eles não voltaram ao barco, deixando para trás documentos e a maioria das roupas e objetos pessoais. Passado uma semana, a moça ligou para o barco desesperada porque haviam aberto uma conta no nome do namorado, depositado todo o dinheiro dos dois ali e este a deixou, roubando tudo o que tinha. Ela pedia para ser readmitida ou ajuda para voltar ao seu país.

Rajee, indiano, faxineiro, trabalha há anos em cruzeiros. É casado e criou dois filhos vendo-os somente um par de meses ao ano. Eu perguntei:

– Nossa, quando você está em casa deve ficar o tempo todo com seus filhos, não é?

– Não. Não me aproximo muito para que não se acostumem com minha presença e sofram cada vez que embarco.

Os botes salva-vidas ficam pendurados ao longo do navio. Em cada um devem caber cerca de 60 pessoas. Eles já ficam equipados com água, comida para alguns dias e diversos equipamentos de sobrevivência.